terça-feira, 24 de agosto de 2010

Capoeira e a semente que não brota



O ensino não porduz a aprendizegem, quem ensina apenas ajuda a dar a luz a eprendizagem que já existe no discúpulo”

O que somos na verdade é um mistério, penso que sou uma semente que o vento da vida levou e continua a levar por muitos lugares, bebi da água e recebí da luz desses mesmos lugares e muito ainda tenho para aprender, pelos lugares por onde passei encontrei a luz de alguns Mestres, não tive apenas um único, mas vários, não por escolha própria, mas por que assim aconteceu, se por obra do destino ou do acaso, isso ainda não está bem definido em minhas idéias, o fato é que andei pelo mundo a ter sempre novas experiências.
Preferia ser resultado da luz de um único Mestre durante o tempo da minha formação como capoeira, gostaria de ter sido lançado de uma só rampa e que depois do salto eu pudesse ter as experiências do jogo do jogo que tive, mas não foi o que me aconteceu, nas mudanças de lugares, levei a bagagem do antecessor e recebi a do próximo que iria continuar minha formação, e lembro-me que essas formações sempre foram próxima e pessoais. Quando penso no que sou hoje, vejo que a semente brota somente aquilo que ela é, o que ela mostra para o mundo é o que vem de dentro, porém sabemos que por um lado, muitas sementes precisam da boa terra, água e da luz, para um bom discípulo acontecer então é preciso um bom Mestre ou muita sorte (Já temos aqui o eterno comflito do acaso e não acaso), porém ainda existe a terceira realidade, a de que existem plantas das mais belas que possam existir a nascerem nos desertos mais inóspitos, onde a vida nem deveria acontecer, então agora tudo se complica ainda mais, é uma luta entre os dois lados de uma mesma moeda e dos quais cada um tem de “escolher?” a sua verdade o seu caminho. Mas é certo que quando as sementes (alunos) chegam as mãos de um semeador (Mestre) serão sempre o que tem dentro deles, no máximo o mestre pode aparar alguns galhos tortos e conduzi-los melhor para a luz, por mais que o terreno seja propício a água abundante e a luz perfeita, a semente pode não brotar, ela pode ser estéril. Sócrates, filósofo Grego defendia que o ensino não produz a aprendizagem, ele disse isso quando estava ser julgado por traição a Pólis, e alguns dos seus acusadores diziam que ele ensinou a alguns dos pióres tiranos de Atenas, Sócrates disse que a culpa não era dele, que as horas passadas com seus aprendizes os ensinou a pensar com inteligência, mas não os fez pensar com retidão e nem prudência e que na verdade esses aprendizes nunca saíram da ignorância, por isso ele perguntou ao juri se achavam que ele era realmente culpado disso. Se com um bom e verdadeiro Mestre já é difícil estimular grandes discípulos, imagine com essa nova situação da nossa capoeira, onde o papel de Mestre vem sendo banalizado, mal representado e onde muitas vezes esses “semeadores” nem se quer passam pela formação do tempo, do aprendizado do velho Mestre ou se quer ainda tem experiências na própria vida, como estará a capoeira daqui a 20 ou 30 anos?...
Quando falo da Semente, penso no processo de produção agrícola, hoje essa área tem a cultura trânsgénica, “in vitro”, onde frutas, legumes, grãos, são produzidos com tamanho, cores, sabores e muitas outras características que atraem os consumidores, que facilitam o comércio rentabilizando tempo e espaço, sendo muito mais rentável do que muitas culturas ditas biológicas, que neste caso, são produções em menores escalas e para consumo quase que local. Podemos comparar e ver o paralelo da cultura transgénica com a produção em larga escala dos professores de Internet, avião, ou aqueles que já são resultado de um trabalho onde seu próprio Mestre é ele também um produto científico de estufa, creio que a capoeira deve ser humana, da labuta manual do tempo e do cultivo pessoal e próximo, da panela de barro e da culher de pau, da mão na enchada que mexe na terra.
Nos próximos 20 ou 30 anos as referências actuais que nos ligam com o passado, os velhos Mestres e os que os acompanharam, não mais estarão entre nós ou estarão em vias da grande viagem, o que será da capoeira? Onde o fast food, o mundo globalizado a rapidez, a competição e a frenética procura de resultados práticos e rápidos irão suplantar o tempo, as referências, e darão o golpe final na sabedoria, lembrando que sabedoria não é inteligência...Desses velhos Mestres sei que nesse momento ainda saem as últimas sementes, sementes que terão de sobreviver nos desertos do poder financeiro do aliciamento pela fama, da diputa de um mercado, de um mundo selvagem e sem escrúpulos onde os falsos Mestres pregam sempre a desculpa “quase sempre plausível” para seus erros e descuidos...serão essas sementes desses Mestres antigos que ainda nos acompanham fortes o suficientes para conseguirem lutar contra o mal maior? Será que elas serão o suficiente em número? Esse deserto da estupidéz e ignorância se avizinha impiedoso, e vemos neste momento a perda pelo respeito, ancestralidade e filosofia, será que no futuro os capoeiristas ainda vão sentir a beleza e a força dessa ferramenta de luta dos negros escravos que é hoje património imaterial de uma nação, propriedade do mundo?

Axé!!